- Ive Nenflidio
Retirante (Poema publicado na Revista Cultural Traços)
Atualizado: Abr 2
Das bandas do norte, da terra vermelha
Margaridas e Joaquins morrem jovens
Corpo finda como a desguarnecida lavoura
Terra de seres desprezados, cacimbas vazias
Gentes com olhos de fome e escassa colheita
A estiagem é severa, ano após ano de intensas lamúrias
Terra rachada, terra estreita
Desafortunado pássaro do livramento
Triste melodia de muitos lamentos
Noites dolorosas de nuvens tempestuosas
Anunciam um cruciante tempo
Tempo da desventura
Tempo da carência
Da gastura
Da contingência
Nas bandas de lá, amplidão celeste
Não tem chuva, nem um pranto
Triste seca, crianças com fome
Corpo que some
São bravos, são guerreiros
Lágrimas secam no rosto do ancião
Sertanejo nordestino
Na festa do padroeiro procura acalmar o coração
Na procissão um miúdo corpo pagão
Mirrado falecido passa em vão
Homem cristão
Velhas com velas nas mãos,
sem lágrimas não banham o chão
Patativa rasante, triste pássaro do sertão
Cantoria triste
Partiste
Fugiste
Tanta dor, um aperto no coração
Mais uma seca, tempo de privação
Lavadeiras rezam a Ave-Maria
Mães cantam suas queixas nas romarias
São Severinos, são Marias
Lágrimas do silêncio
Água turva, terrível prenúncio
Vai!
Busca teu destino!
Como os pássaros migratórios
Voa... busca outras terras!
Quiçá uma casa estrangeira
Uma vida ligeira
Triste sina
Se ocupam de sol, vento e céu
Povo de fé, pedem a Deus
Mas a chuva não vem...
Couro queimado, só fogaréu
Mísera lamentação, que cena cruel
A seca mata o bicho, mata o homem
Naquelas bandas não tem Noel